Nos últimos anos, o Brasil enfrentou um dilema estratégico: como transformar suas capacidades científicas em soluções inovadoras que impactem positivamente a saúde pública e posicionem o país como um polo atraente para investimentos globais.

Com esse desafio em mente, a Abiquifi lançou, em 2022, o Programa de Inovação Radical (PIR), com o objetivo de estruturar um ecossistema de inovação em saúde capaz de gerar patentes, atrair capital internacional e reter talentos no país. A proposta é clara: criar um ambiente fértil para a inovação radical — que rompa padrões estabelecidos e ofereça soluções inéditas para desafios complexos. O PIR reúne diversos atores — governo, indústria, universidades e startups — em um esforço coordenado para transformar o cenário de inovação nos próximos anos.

Desde o início do programa, diversos resultados importantes podem ser destacados:

• Criação de um processo de seleção na ANVISA para avaliar tecnologias inovadoras ainda em desenvolvimento no Brasil, visando registro futuro;
• Lançamento de um fundo público-privado focado em deeptechs de saúde;
• Desenvolvimento de um programa para preparar startups brasileiras para captação de recursos nos Estados Unidos, culminando na primeira participação de um grupo nacional no evento do JP Morgan;
• Capacitação de 12 centros de pesquisa para ampliar a descoberta e o desenvolvimento de novas moléculas;
• Formulação de um marco regulatório para CDMOs (Contract Development and Manufacturing Organizations), possibilitando a expansão da oferta tecnológica no país.

Mas o que significa, na prática, fomentar a inovação radical em saúde no Brasil hoje? E como diferentes atores do ecossistema estão contribuindo para tornar essa visão uma realidade concreta?

“A Mirscience Therapeutics foi fundada por dois doutorandos que pesquisavam terapias com RNA antes de ganharem reconhecimento global. Nosso foco é tratar doenças que impactam a longevidade, não apenas viver mais, mas viver melhor. Mais de 32 milhões de pessoas morrem a cada ano de condições que comprometem a autonomia e geram bilhões em custos com saúde. Desenvolvemos uma tecnologia para manter a vida em movimento. Nossa molécula, MT-29, aumenta a força e a massa muscular em diversos modelos de doenças musculares. Ela representa uma esperança concreta para milhões de pessoas afetadas por distúrbios musculares. Com ela, buscamos transformar abordagens de tratamento e aliviar o peso sobre os sistemas de saúde. Investir em longevidade significa investir em qualidade de vida. Continuamos comprometidos em moldar o futuro da medicina por meio da ciência e da inovação.”
— Lucas Ariel Fernandes da Rocha – Mirscience

“A Wecare é uma startup que desenvolve produtos para prevenir e tratar lesões causadas por quimioterapia e radioterapia, utilizando ingredientes derivados de processos biotecnológicos e da biodiversidade. Essas lesões afetam cerca de 50% dos pacientes, levando à redução das doses de quimioterapia e, consequentemente, a menores chances de sucesso do tratamento. Desenvolver soluções em saúde exigiu navegar por etapas regulatórias e clínicas complexas, viabilizadas por meio de parcerias com centros de pesquisa como Unicamp e Hospital Albert Einstein. […] A colaboração em rede e o acesso a financiamentos públicos foram cruciais para concretizar nossos produtos e permanecem essenciais para o avanço de novos ingredientes ativos. Nossos próximos desafios incluem finalizar estudos de custo-efetividade e desenvolver seis novos ingredientes farmacêuticos de origem vegetal.”
— Cristiane Bertolami – Wecare

“Na Biotimize, acreditamos que a inovação radical em saúde só se torna real quando encontra caminhos socioeconomicamente viáveis para avançar. Como CDMO especializada em biofármacos, temos contribuído diretamente para transformar propriedade intelectual em soluções terapêuticas reais. Atuamos como ponte entre pesquisa e mercado, apoiando projetos desde grandes empresas farmacêuticas até startups e universidades, enquanto avançam conforme normas regulatórias internacionais. Nos últimos anos, observamos um aumento significativo tanto no volume quanto na ambição dos projetos de inovação no Brasil. Nosso trabalho tem sido essencial para ajudar essas iniciativas a atingirem fases não clínicas e clínicas com segurança, qualidade e real potencial de aplicação.”
— Fernando Barbosa – Biotimize

“É impossível falar sobre inovação radical em saúde sem investimento consistente em ciência, tecnologia e inovação. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) reafirmou seu compromisso com esse objetivo ao posicionar a saúde como prioridade estratégica. Após a liberação do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), conforme determinação do presidente Lula, uma das primeiras chamadas públicas lançadas foi pelo programa ‘Mais Inovação Brasil – Saúde’ […] Essa mobilização reflete o compromisso do Ministério em superar o histórico subfinanciamento do setor e promover investimentos significativos em inovação para o SUS.”
— Leandro Pedron – MCTI

“Impulsionar a inovação na regulação da saúde no Brasil — um compromisso assumido pela Anvisa — beneficiará o setor de saúde brasileiro, especialmente o Sistema Único de Saúde (SUS), que, por meio da vigilância sanitária, atende diariamente cerca de 215 milhões de pessoas, 100% da população brasileira. A vigilância regula quase 250 atividades econômicas, garantindo acesso e consumo seguro de produtos e serviços essenciais para a saúde. Considerando o avanço de novas tecnologias, especialmente aquelas envolvendo automação e inteligência artificial, avançar rapidamente nessa área é crucial para contribuir com o desenvolvimento nacional. […] Vivemos em um mundo altamente tecnológico, onde artefatos com impactos diretos na saúde individual e coletiva surgem constantemente, exigindo a integração de um número crescente de produtos, serviços e informações que capacitam os cidadãos a fazer escolhas de saúde mais conscientes. Nesse contexto, nosso desafio é acompanhar essa velocidade.”
— Artur Iuri Alves de Sousa – Anvisa

“A Finep desempenha um papel vital no sistema nacional de inovação em saúde. […] O programa ‘Mais Inovação Brasil’, implementado pela Finep, busca apoiar o desenvolvimento de projetos inovadores no setor industrial nas seguintes áreas: desenvolvimento de princípios ativos farmacêuticos (APIs), desenvolvimento de produtos biológicos com alto impacto para o SUS, pesquisas clínicas para inovação nacional e produtos prioritários definidos pelo Ministério da Saúde. […] Até o momento, o programa resultou na contratação de 19 projetos, totalizando aproximadamente US$ 37 milhões.”
— Igor Bueno – Finep

“O Programa de Inovação Radical liderado pela Abiquifi representa uma iniciativa estratégica alinhada à missão da Libbs de contribuir para o desenvolvimento sustentável da cadeia de valor farmacêutica no Brasil. […] A Libbs realizou investimentos significativos em startups globais que desenvolvem terapias inovadoras com potencial de transformar a jornada do paciente. Esses investimentos totalizam cerca de US$ 20 milhões e devem ser alocados às startups nos próximos três anos. Além disso, apoiamos startups brasileiras escalando suas cadeias de produção para viabilizar o desenvolvimento clínico de seus produtos.”
— Carlos Eduardo Vitor – Libbs

“A Biominas Brasil é um hub de inovação aberta no setor de saúde, promovendo empreendedorismo e inovação em toda a cadeia de desenvolvimento de novos produtos e serviços.
Nos últimos 35 anos, a Biominas ajudou a criar mais de 400 startups, atuando como parceira de empreendedores que buscam inovação e possibilitando o lançamento de inúmeros produtos inovadores no mercado. Para isso, oferecemos soluções em educação, gestão, infraestrutura e serviços especializados. Empresas de médio e grande porte, assim como investidores, se beneficiam ao se conectar com nossos projetos e startups inovadoras.
Acreditamos que o Brasil está vivendo um momento único, com startups bem estruturadas, tecnologias competitivas globalmente, fluxo crescente de investimentos públicos e privados e um ecossistema de suporte e serviços em contínuo amadurecimento.”
— Eduardo Emrich Soares – Biominas

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Este artigo faz parte da 9° edição da revista bioBr, uma publicação realizada anualmente pela Abiquifi em parceria com a ApexBrasil por meio do projeto Brazilian Pharma & Health. Para conferir a revista completa, acesse: https://issuu.com/abiquifi/docs/biobr_9th_edition