A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pode assinar, nesta terça-feira (1º), o contrato de transferência de tecnologia com a farmacêutica AstraZeneca, marcando o início do processo de independência do Brasil na produção de vacinas contra a Covid-19.PUBLICIDADE

Esta etapa traria como impacto ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) não só a ampliação da cobertura vacinal no país, como a possibilidade de desenvolver imunizantes adequados para as variantes locais. 

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, no dia 30 de abril, que a Fiocruz produzisse no Brasil o ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da vacina de Oxford e da AstraZeneca. O IFA é o insumo biológico essencial para a produção de imunizantes. Atualmente, o Brasil só produz vacinas mediante importação de IFAs, sobretudo da China.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), Norberto Prestes, explica a importância do IFA na produção da vacina. 

“A produção 100% nacional da vacina da Covid-19 significaria que nós produziríamos não só a formulação final da vacina, mas também o insumo farmacêutico. O insumo farmacêutico, que é o IFA, é o que tem a tecnologia que vai provocar a reação no seu organismo. Então seria a capacidade de produzir esse IFA e a formulação final, que é a vacina”, afirma.

“Essa receita de como produzir o IFA vai ser passada pela AstraZeneca, então se a gente conseguir produzir esse insumo farmacêutico, poderemos falar que a vacina está sendo produzida aqui”, explica Prestes. 

A produção local é parte do contrato assinado pela Fiocruz com a Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca, que incluía a transferência de tecnologia para a entidade brasileira. No entanto, até que a transferência seja concluída e a Anvisa autorize a produção local, a Fiocruz ainda depende da importação dos insumos.

Norberto Prestes reitera que, além do Butantan e a Fiocruz, a Universidade de São Paulo (USP) também trabalha no desenvolvimento de uma vacina com tecnologia nacional. 

“Vale salientar que tem uma vacina em desenvolvimento na USP de Ribeirão Preto, em parceria com a empresa Farmacore, que vai ser 100% brasileira. Inclusive o interesse desta empresa que está produzindo essa vacina, a Versamune, é que eles detenham conhecimento da produção de um farmacêutico”, diz.

“Estão nesse esforço de terminar de desenvolver essa vacina no Brasil, para que possam desenvolver o IFA e a formulação final, então tem essa luz no fim do túnel. É uma possibilidade que, além da transferência da tecnologia que está indo para a Fiocruz pela AstraZeneca e a que o Butantan está tentando desenvolver aqui, ter mais essa de Ribeirão Preto”, argumenta.  

Benefícios para o Brasil

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), Norberto Prestes, afirma ser fundamental que o Brasil tenha a independência na produção de insumos. Ele destaca a importância que a tecnologia traria para o acompanhamento das cepas do novo coronavírus que ainda podem se desenvolver. 

“Pensando que essa pandemia pode permanecer por alguns anos ainda, é fundamental que esse IFA seja produzido aqui [Brasil], porque a gente consegue acompanhar as variações que surgirão aqui. Por isso é importante produzir o IFA e a vacina, ter ela 100% nacionalizada. A gente consegue acompanhar a mudança da cepa do vírus, essa mutação dele, e consegue produzir vacinas que podem reagir melhor a cada mutação do vírus”, explica Prestes. 

Para o especialista, além de acelerar o processo de imunização entre os brasileiros, a produção de uma vacina 100% nacional traz a independência diante do competitivo mercado de compra de vacinas.

“Agilizaria absurdamente e a gente teria essa vacinação anual sem ter o estresse de ter que importar o insumo e produzir a vacina aqui. A gente teria como produzir a vacina  e o insumo aqui, tiraria nossa dependência do exterior e teríamos a capacidade de acompanhar a mudança das cepas e produzir vacinas mais eficientes para a população brasileira. A população vacinada diminuiria os riscos de lockdown e tudo que vivemos até agora”. 

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